Durante um seminário em Maio de 2015 em Amsterdam, Holanda, Tenzin Wangyal Rinpoche mencionou que as preces podem ser muito poderosas. Ton Bisscheroux ficou intrigado e pediu ao Rinpoche para esclarecer mais sobre isso.

Caro Rinpoche, durante os ensinamentos em Amsterdam, o senhor disse que há alguns anos o senhor pode perceber o verdadeiro poder das preces. O senhor disse que rezar é especialmente útil quando alguém se sente travado – por exemplo, em uma situação difícil ou com padrões mentais de preocupação – e que os benefícios de rezar não resultam muito como se alguém estivesse dando a você alguma coisa, mas da maneira como você se permite ou se abre a algo. O senhor poderia explicar melhor isso?
Eu sinto que as preces são importantes e poderosas. Pelo que tenho visto, muitas pessoas sentem que elas estão no comando de suas vidas diárias. E se elas não se sentem no controle das situações e das pessoas em volta delas, no mínimo elas ficam tentando ter esse controle. Com certeza, algumas vezes as coisas não acontecem como nós gostaríamos, não importa quanto esforço nós ponhamos nisso. Todos nós encaramos dor, sofrimento, e outros desafios, e algumas vezes nós percebemos que temos poucas opções. Nós podemos chegar num lugar escuro e sem esperança. Numa situação como essa, a menos que nós possamos abrir o nosso coração e buscar ajuda de uma fonte superior – alguma coisa mais elevada do que o nosso próprio ego e nossa dor – é possível que nos sintamos constantemente perdidos na escuridão e no sofrimento. Então você pode rezar para seres iluminados, guardiões e protetores pedindo ajuda para superar os obstáculos, encontrar soluções, ou obter clareza em relação às decisões que devem ser tomadas. Ainda que você não tenha certeza que rezar vai ajudar, pelo menos você pode se abrir para essa possibilidade. Eu acho que quando as pessoas pedem ajuda com esse tipo de abertura, o universo abre novas portas e novas oportunidades.
 
Claramente, quando você está nesse espaço de abertura, há muitas pessoas e seres que querem lhe ajudar. Seres iluminados, família, amigos e colegas, todos querem ajudar. Por meio da prece, você está abrindo a porta do seu coração. Você está rompendo sua mente conceitual, racional que está sempre tentando controlar tudo e abrindo um espaço em seu coração para novas possibilidades.
 
 
O senhor quer dizer que rezar é mais efetivo quando nós rezamos por nós mesmos? Ou é também poderoso rezar pelo benefício das pessoas que estão passando por alguma necessidade?
 
Com certeza, rezar para si mesmo ou pelo beneficio dos outros tem o mesmo poder. Rezar pode ser de grande benefício quando feito por alguém que deseja realmente ajudar aos outros, incluindo aí os terapeutas, assistentes sociais e até os professores como eu. Antes de começar um ensinamento, eu rezo: “Que eu possa ser útil da melhor maneira possível, que tenha o maior potencial para ajudar aqueles que estão aqui me ouvindo.” Eu rezo desse jeito; eu estou aberto a isso. Depois que eu termino os ensinamentos ou práticas, eu rezo: “Possam essas palavras serem uteis para todos aqueles que verdadeiramente precisam delas nesse momento em suas vidas.” Eu sempre começo e concluo com preces como essas.

 
O efeito de rezar depende do nosso nível de consciência enquanto rezamos? Durante o seminário em Amsterdam o senhor disse que em uma escala de 1 a 10, a maioria das pessoas não vai além do nível 3.
 
Isso tem que ver com o nível de consciência que você tem de alguma coisa mais elevada do que você mesmo, do que o seu ego ou o seu senso de identidade. Muitas pessoas tem dificuldade de pedir ajuda, seja de uma deidade, guardião, protetor ou outros seres mais elevados. Basicamente, isso exige abertura e confiança em algo mais elevado do que você mesmo, alguma coisa que não é confusa, que não é perdida, que não está em sofrimento, alguma coisa que realmente é capaz de lhe ajudar. Isso é estar aberto a novas possibilidades.

 
Cerca de dois anos atrás eu recitava o mantra de Garuda Vermelho, três voltas de mala (324 vezes) todos os dias por, pelo menos, a metade de um ano. O resultado foi que eu fiquei mais confiante. Isso realmente me mudou, e eu não entendo por quê.
 
Até você fazer isso, você não estava aberto. Quando você está aberto, as coisas definitivamente mudam. Há muitas pessoas que se sentem perdidas e incapazes de ajudarem a si mesmas, mas elas não estão abertas o suficiente para permitir que mudanças aconteçam.

 
Então, tanto recitar mantras como rezar ajuda as pessoas a se abrirem?
 
Sim, ambos nos abrem para alguma coisa além de nossa mente conceitual.

 
Qual a diferença entre as várias preces que nós recitamos, tais como as Preces de Dedicação, Preces de Vida Longa, ou Prece do Bardo?
 
Cada prece tem uma função diferente ou propósito. Algumas são mais poderosas, outras são mais pacíficas. De certa forma, preces são como chamadas telefônicas ou mensagens que nós enviamos uns para os outros – elas podem ser urgentes ou podem ser mais tranquilas.  Algumas preces são para remover obstáculos, algumas são para dedicar nossa prática para o benefício dos outros, algumas são para receber bênçãos, algumas são para recuperar qualidades ou essências elementais. A Prece de Tapihritsa é para despertar a consciência na natureza da mente. Então, há muitas preces diferentes.


 
A imagem de um telefone também veio para mim. Eu não sei como um telefone funciona, mas quando eu falo nele e há conexão, alguém em algum lugar pode me ouvir. A energia vai de um lugar para o outro. Nós podemos usar essa mesma analogia em relação às preces? Quando nós pensamos em alguém e rezamos por ele – como nós fazemos na lista de e-mails para prática de Garuda – nós estamos enviando energia positiva para aquela pessoa?
 
Sim, com toda certeza.

 
A Prece de Refúgio Interno que o senhor escreveu para As 3 Portas é uma prece ou um poema?
 
É uma prece. Mas poemas e preces podem estar juntos. A maioria das preces são como poemas, mas nem todo poema é uma prece.
 
 
Entrevista por Ton Bisscheroux
 
Editado por Polly Turner

Trecho da Newsletter Ligmincha Europe Edição nº18

Tradução para o português:  Flávio de Souza